Pesquisadora Italiana fala sobre a exposição
“Superare se stessi. Voci
migrante tra Europa e America.”
A pesquisadora Dra. Chiara Vangelista que integra a Cátedra UNESCO/UFGD,
entrevistada pela doutoranda em história do PPGH Eliene Dias de Oliveira, fala
sobre a exposição “Vozes de migrantes da Europa para a América” na Universidade
de Gênova na Itália. A pesquisadora é reconhecida nacionalmente pela sua
dedicação a história das migrações ao Brasil.
Doutoranda Eliene Dias de Oliveira e Dr. Chiara Vangelista
Segue abaixo a entrevista:
Eliene Dias de Oliveira: Em linhas gerais, qual é a proposta norteadora
da mostra “Superare se stessi. Voci migranti tra Europa e America”?
Chiara Vangelista: A mostra constitui por enquanto a parte mais
importante das atividades de extensão do Arquivo AREIA (AREIA-AudioArchivio delle Migrazioni tra Europa e America), porque
ela não ilustra simplesmente o acervo do arquivo, mas propõe a um vasto público
plúrimas formas de leitura do presente e do passado das relações entre Europa e
América Latina.
O acervo do Arquivo AREIA é acessível só a usuários especializados:
professores, pesquisadores, estudantes de pós-graduação. Esta foi uma escolha
motivada seja pelo projeto fundador de AREIA – ser um espaço de debate
científico – seja pelo respeito da privacidade dos depoentes, que entregaram ao
Arquivo, por meio de entrevistas, a história de suas próprias vidas. Por outro
lado, as entrevistas podem ser um instrumento de compreensão da sociedade da qual
todos nós estamos fazendo parte.
A exposição “Superare se stessi” é então a maneira de conjugar os dois serviços:
manter a privacidade dos depoentes e mostrar a um público mais vasto do que
aquele dos profissionais da pesquisa a riqueza das experiências de várias
gerações de migrantes entre Europa e América, desde o começo do século XX até
os nossos dias.
Em suma, a mostra abre uma janela para o Arquivo, o qual a sua vez abre
uma janela sobre a complexidade do mundo contemporâneo.
Eliene Dias de Oliveira: Qual é a origem dos relatos apresentados na mostra?
Chiara Vangelista: As frases expostas são extraídas de uma parte das
entrevistas contidas no Arquivo AREIA. Elas pertencem a distintos corpus documentais construidos pelos
pesquisadores e pelas pesquisadoras que, ao concluir seus trabalhos, doaram ao
AREIA o conjunto das fontes orais por eles construidas.
Porém, precisa esclarecer que os painéis da exposição não apresentam os relatos dos migrantes, mas propõem fragmentos dos mesmos; então, apresentam
de fato os pensamentos (mais do que as trajetórias) de latino-americanos e de
europeus em trânsito entre os dois continentes. O relato migratório é construido pelos próprios visitantes da mostra,
que são de fato convidados para dialogar com os desconhecidos cujas palavras
são impressas nos panéis.
Ademais, é preciso lembrar que a origem da composição da exposição está
num roteiro de leitura específico. Não foram os pesquisadores que escolheram
algumas frases de suas próprias entrevistas para a composição da mostra, mas
foi a minha leitura que compôs esta espécie de relato migratório formado por
plúrimas vozes.
Minha leitura privilegiou não tanto as condições gerais da migração, mas
a perspectiva subjetiva da trajetória migrante, em fragmentos de imagens,
sensações e sentimentos que, no conjunto, mostram um roteiro coletivo - porém
formado por individualidades específicas - para a conquista de uma nova
afirmação pessoal e familiar, que leva, mais do que para efetivos melhoramentos
econômicos, para um conhecimento mais profundo de si mesmas e das relações com
os outros: outras culturas, outros contextos.
Eliene Dias de Oliveira: Segundo sua perspectiva, qual é a importância de, nos dias atuais,
escutar e refletir sobre as vozes migrantes?
Chiara Vangelista: Acho que há nisso vários aspectos importantes. Em
primeiro lugar, tomar consciência da complexidade da sociedade da qual formamos
parte. Apesar de uma tendência natural (porque mais simples) de pensar o nosso
meio social e afetivo como parcelado em muitos segmentos pouco comunicantes, as
migrações históricas e actuais são um observatório privilegiado, inclusive a
partir dessas histórias individuais, do contínuo processo criativo de
transformação das sociedades humanas. Em segundo lugar, no caso das migrações atuais,
os meios de comunicação, mas boas partes das publicações acadêmicas também
consideram o migrante como um deslocado ou um desterrado, e nada mais: como
trabalhador ou trabalhadora, como clandestino, como pessoa que precisa de
cuidado ou de específico controle social, ou até como pessoa que deve ser
expulsa do país de destino, ou como formante parte de específicas comunidades nacionais no estrangeiro,
frequentemente inventadas ou pelo menos superestimadas.
Escutar as vozes dos migrantes coletadas através dos métodos da história
oral leva-nos a novos roteiros analíticos para um entendimento mais profundo
dos processos migratórios, do presente e do passado, evidenciando as dinâmicas
das interações pessoais e sociais, as potencialidades transformadoras dos
processos migratórios, e não só pelos próprios migrantes, mas, na mesma medida,
para os países acolhedores.
TEMÁTICA: Mostra “Superare se
stessi. Voci migrante tra Europa e America.”.
Relato de uma migrante brasileira
Na exposição tem ainda um vídeo com narrativas de migrantes:
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