“A
mulher precisa ter controle da assistência em saúde”, defende enfermeiro obstetra espanhol
Manuel
Linares Abad é enfermeiro obstetra e docente na Universidad de Juen, na Espanha.
Sua graduação é na área da Saúde, mas Manuel fez mestrado e doutorado em
Antropologia, numa busca de novos olhares para o atendimento obstétrico. Em sua
tese de doutorado, Manuel entrevistou parteiras, buscando conhecer como elas
fazem o atendimento às parturientes e como elas adquirem e partilham dos seus
conhecimentos profissionais.
O
professor Manuel e a professora Maria Luisa Grande Guascón estiveram
recentemente na Universidade Federal da Grande Dourados, participando do 1º
Colóquio Internacional de Estudos de Gênero e Interculturalidade. Na ocasião,
ele concedeu uma breve entrevista sobre
assistência obstétrica e opressão de gênero.
A
formação do profissional obstetra na Espanha é voltada para uma assistência
humanizada, de respeito à diversidade das mulheres, ou há uma pressão do modelo
de assistência tecnocrática, centrada na figura do médico?
Na
Espanha a assistência obstétrica é uma assistência muito tecnificada. É uma
assistência muito monitorizada, excessivamente intervencionista. Existe um
movimento, formando essencialmente por enfermeiras obstétricas, por um parto
mais humanizado, por um parto que repete culturalmente e socialmente o trabalho
das parteiras. Portanto, há uma tendência a que a assistência obstétrica seja
mais humana, mais centralizada na família e menos intervencionista. Esse é o
panorama da assistência obstétrica em Espanha.
Assim
como na Espanha, no Brasil e nos demais países da América Latina, há uma
tradição obstétrica de intervenção no corpo da mulher, que se traduz num alto
índice de episiotomias e de cirurgias cesarianas. Isso acontece também na
Europa, na Espanha?
É
algo comum em muitos países, essa cultura intervencionista em que se abusa das
intervenções desnecessárias, como a episiotomia – que é o corte do períneo da
mulher - , realmente são intervenções que deveriam ser de uso bastante
discriminado, e não indiscriminado, não deveriam ser de uso rotineiro. A
cesárea, como intervenção cirúrgica, seria um acerto se não há condição para o
parto natural. Assim como a episiotomia poderia se fazer numa mulher com
disfunção, com uma incapacidade na estrutura perineal. Mas, como consequência
dessa intervenção excessiva, por exemplo, o excesso da episiotomia, vem
causando disfunções nessa estrutura do corpo das mulheres e afetando a sua
sexualidade, em definitivo. Vemos que a medicina é uma profissão diretamente
relacionada ao desenvolvimento e à industrialização, o parto e a assistência
intervencionista, medicalizada, que leva a um doutrinamento do corpo da mulher.
Para uma saúde mais inclusiva, deve haver mais empoderamento, que a mulher
possa tomar mais decisões do que fazer com seus corpo e sua saúde.
Para
isso a mulher precisa de mais acesso a informação, não é?
Isso
é fundamental. A mulher precisa ter o controle dos recursos sanitários, da
assistência em saúde. Isso se dá no instante em que a mulher esteja informada,
quando a mulher adquira confiança e então tenha atitude. Na linguagem de
gênero, se trata de empoderar a mulher. Levar a ela informação se não a tem, em
termo de Saúde, é empoderar a mulher, é que ela esteja em posição central na
atenção obstétrica, e que ela seja incluída no processo de gestão da Sáude, que
ela participe das decisões na assistência em saúde.
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